Texto publicado na primeira página do HUMANITAS nº 04 – Novembro/2012
A ICAR estabeleceu forte vínculo com os impérios português e espanhol e jamais se preocupou com uma ação libertadora
A ICAR estabeleceu forte vínculo com os impérios português e espanhol e jamais se preocupou com uma ação libertadora
Há mais de 500 anos o Brasil
foi invadido pelos colonizadores europeus. O objetivo foi o enriquecimento da
Europa. Na realização deste objetivo, previa-se muito trabalho pesado e a
solução encontrada pelos europeus foi à oficialização da escravidão no país
como política econômica. As consequências desta política contaminaram
negativamente as relações raciais e sociais em todo Brasil e até hoje estamos
colhendo seus malefícios. Por exemplo: a Unicamp fez uma pesquisa em 1988, no
centenário de abolição da escravidão, com 100 engenheiros negros e 100
engenheiros brancos empregados. O resultado: os engenheiros brancos ganham em
média 28% a mais do que os engenheiros negros!
Através da bula Dum Diversas, de 16 de junho de 1452 , o papa Nicolau V diria ao rei de Portugal, Afonso V: “...nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades... e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão, e apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens semelhantes...”. Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha.
Apoiados nesse documento, os reis de Portugal e Espanha promoveram uma devastação do continente africano, matando e escravizando milhões de habitantes. A África era o único continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasão e massacre promovido pelos povos europeus, o continente africano ficou com as mãos e os pés amarrados e dessa forma permanece até hoje.
O projeto colonial português se afirmava desenvolvendo duas formas de intervenção drásticas para a sobrevivência dos povos indígenas: usurpação de suas terras e exploração da sua força de trabalho. Na realidade, os primeiros escravos do Brasil foram os índios, também chamados, na documentação oficial, de “negros da terra” ou “gentio da terra”.
O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravistas. Cada ser humano, até hoje, tem uma postura política e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses.
De 1500 a 1842, a intenção da igreja de Roma era a de promover a fé cristã sob a ótica européia colonizadora. Os valores da cultura negra eram menosprezados pela cultura branca dominante.
O lugar ocupado pelo negro era o de escravo e a escravidão roubava dele o direito de constituir família organizada, de vivenciar suas tradições culturais, de resgatar suas raízes. O colonizador anunciava tudo isso como sendo a Boa Nova, mas, sob a ótica do povo negro escravo e oprimido, significava a extinção de seus valores culturais e religiosos.
A afirmação de que os negros foram providencialmente abençoados por Deus através da escravidão, aparece no sermão XXVII, de Antônio Vieira, onde ele diz, “é particular providência de Deus que vivais de presente escravos e cativos para que por meio do cativeiro temporal consigais a liberdade ou alforria eterna.”
A mensagem católica da época colonial enfatizava que a África era um continente demoníaco, e todos os seus habitantes já estavam condenados ao fogo eterno, devido à sua origem ligada ao pecado e à maldição de Cão (Cam).
Os religiosos da época legitimaram o processo de escravização dos negros, sobre a prerrogativa de que a única chance de um africano ter salvação da sua alma pré-condenada ao inferno seria sendo trazido para a América na condição de escravo, onde teria a oportunidade de contatar a cristandade, ouvir a pregação da mensagem cristã proferida pelos portugueses e espanhóis católicos, e receber o santo batismo.
A igreja católica estabeleceu um forte vínculo com o Império ratificando essa proposta e jamais se preocupou com uma ação libertadora, e sim com os privilégios obtidos a partir dessa parceria. Assim, a ICAR apoiava o Império nas lutas armadas contra os escravos negros. Colocou-se ao lado dos opressores diante da destruição dos Quilombos dos Palmares e do assassinato de Zumbi, além de ser conivente com o assassinato de Manoel Congo, líderes do povo negro que lutaram contra a escravidão e libertação de seu povo. Portanto, o Império concedia à Igreja poder e status para que ela também pudesse influenciar politicamente nos rumos do país.
A história do Brasil está assim misturada à história da escravidão. Podemos dizer que nos seus mais de quinhentos anos de existência, o Brasil tem funcionado sem escravos durante apenas 150 anos. Nos anos restantes, o país se fez à custa do suor e do sangue dos negros que chegavam às praias brasileiras, emergindo da travessia do Atlântico nos porões dos navios negreiros, onde sobreviviam apenas os mais fortes.
Através da bula Dum Diversas, de 16 de junho de 1452 , o papa Nicolau V diria ao rei de Portugal, Afonso V: “...nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades... e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão, e apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens semelhantes...”. Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha.
Apoiados nesse documento, os reis de Portugal e Espanha promoveram uma devastação do continente africano, matando e escravizando milhões de habitantes. A África era o único continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasão e massacre promovido pelos povos europeus, o continente africano ficou com as mãos e os pés amarrados e dessa forma permanece até hoje.
O projeto colonial português se afirmava desenvolvendo duas formas de intervenção drásticas para a sobrevivência dos povos indígenas: usurpação de suas terras e exploração da sua força de trabalho. Na realidade, os primeiros escravos do Brasil foram os índios, também chamados, na documentação oficial, de “negros da terra” ou “gentio da terra”.
O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravistas. Cada ser humano, até hoje, tem uma postura política e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses.
De 1500 a 1842, a intenção da igreja de Roma era a de promover a fé cristã sob a ótica européia colonizadora. Os valores da cultura negra eram menosprezados pela cultura branca dominante.
O lugar ocupado pelo negro era o de escravo e a escravidão roubava dele o direito de constituir família organizada, de vivenciar suas tradições culturais, de resgatar suas raízes. O colonizador anunciava tudo isso como sendo a Boa Nova, mas, sob a ótica do povo negro escravo e oprimido, significava a extinção de seus valores culturais e religiosos.
A afirmação de que os negros foram providencialmente abençoados por Deus através da escravidão, aparece no sermão XXVII, de Antônio Vieira, onde ele diz, “é particular providência de Deus que vivais de presente escravos e cativos para que por meio do cativeiro temporal consigais a liberdade ou alforria eterna.”
A mensagem católica da época colonial enfatizava que a África era um continente demoníaco, e todos os seus habitantes já estavam condenados ao fogo eterno, devido à sua origem ligada ao pecado e à maldição de Cão (Cam).
Os religiosos da época legitimaram o processo de escravização dos negros, sobre a prerrogativa de que a única chance de um africano ter salvação da sua alma pré-condenada ao inferno seria sendo trazido para a América na condição de escravo, onde teria a oportunidade de contatar a cristandade, ouvir a pregação da mensagem cristã proferida pelos portugueses e espanhóis católicos, e receber o santo batismo.
A igreja católica estabeleceu um forte vínculo com o Império ratificando essa proposta e jamais se preocupou com uma ação libertadora, e sim com os privilégios obtidos a partir dessa parceria. Assim, a ICAR apoiava o Império nas lutas armadas contra os escravos negros. Colocou-se ao lado dos opressores diante da destruição dos Quilombos dos Palmares e do assassinato de Zumbi, além de ser conivente com o assassinato de Manoel Congo, líderes do povo negro que lutaram contra a escravidão e libertação de seu povo. Portanto, o Império concedia à Igreja poder e status para que ela também pudesse influenciar politicamente nos rumos do país.
A história do Brasil está assim misturada à história da escravidão. Podemos dizer que nos seus mais de quinhentos anos de existência, o Brasil tem funcionado sem escravos durante apenas 150 anos. Nos anos restantes, o país se fez à custa do suor e do sangue dos negros que chegavam às praias brasileiras, emergindo da travessia do Atlântico nos porões dos navios negreiros, onde sobreviviam apenas os mais fortes.
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