Texto de Celso Lungaretti –
Jornalista – São Paulo
publicado no HUMANITAS nº 01 –
Setembro/2012
Reunido com bispos brasileiros na manhã de
uma quinta-feira, 28 de outubro de 2010, em Roma, o patético papa Bento XVI
conclamou-os a meterem o nariz em assuntos que não lhes dizem respeito, como se
a separação entre a Igreja e o Estado não vigorasse há 120 anos em nosso país!
Sem se dar conta de que os valores medievais hoje nada mais são do que cinzas de um passado que envergonha os civilizados, quer o papa que a Igreja faça proselitismo político ("quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas"), pressionando partidos e candidatos no sentido de que:
Sem se dar conta de que os valores medievais hoje nada mais são do que cinzas de um passado que envergonha os civilizados, quer o papa que a Igreja faça proselitismo político ("quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas"), pressionando partidos e candidatos no sentido de que:
Seja negado às mulheres o direito de
interromper, mesmo no início, uma gravidez indesejada, e aos desenganados o
direito de escolherem o momento e a forma como preferem morrer ("Quando os projetos políticos
contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da
eutanásia, o ideal democrático é atraiçoado nas suas bases");
Seja imposto o ensino religioso em escolas
públicas do Estado, obrigando professores a cumprirem o papel de sacerdotes,
invadindo a esfera de decisão das famílias ("uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação
religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na
escola pública do Estado").
Sejam expostos símbolos religiosos em
ambientes públicos, em gritante violação dos direitos de religiosos de outras
confissões, ateus e agnósticos ("Queria
ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo
tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito").
Em tempos corriqueiros, este anúncio da "Teologia
do Retrocesso" de Bento XVI já seria uma descabida incitação ao
lobbismo. Três dias antes do 2º turno de uma eleição presidencial, a
interferência indevida desse papa, cujo horizonte mental é o de um ativista da
TFP, assumiu gravidade ainda maior. Pois se tratou, pura e simplesmente, de uma
chantagem contra a democracia brasileira.
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