sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Um era o verbo. O outro é o discurso. Tudo igual!

Texto de Carlos Eduardo Ferraz – Militar – Recife/PE
publicado no HUMANITAS nº 03 – Outubro/2012 

O algo mais bizarro e mais ridículo, no entanto, tem de ter a mais firme e sólida evidência.


As pessoas oram, clamam, pedem, acreditam e, se acontece o que era esperado, o que foi pedido: Ah! Foi deus. Acontecendo pela metade ou em parte, foi porque deus quis assim. Ele não ia dar tudo de mão beijada, tinha outros planos, ad infinitum. Se acontece o pior, justamente aquilo que se pedia, em oração, para que não ocorresse, aaaahh…, não culpe deus: foi o diabo, foi o livre-arbítrio do ser humano, é um sinal do fim dos tempos, ad infinitum”.
Eu acredito em prova. Eu acredito em observação, medição e raciocínio, confirmados por observadores independentes. Vou acreditar em qualquer coisa, não importa quão bizarra e ridícula, se forem apresentadas provas. O algo mais bizarro e mais ridículo, no entanto, tem de ter a mais firme e sólida evidência.
O engraçado é que as tais “Escrituras” também estão cheias de exemplos do que os crentes não podem usar para esse fim. Vejamos: “Disse, pois, o Senhor a Moisés: ‘Certamente morrerá aquele homem; toda a congregação o apedrejará fora do arraial.’ Então toda a congregação o tirou para fora do arraial, e o apedrejaram, e morreu, como o Senhor ordenara a Moisés. (Números 15:32-36).
Um ser que manda que alguém seja morto a pedradas só porque desobedeceu à sua regra estúpida de não fazer nada no dia de sábado pode ser considerado bom? Um ser que é a favor da escravatura pode ser considerado bom? Um ser que vai condenar todos os que não babarem seu ovo santo a uma tortura eterna pode ser considerado bom?
Um ser que manda seu povo escolhido invadir cidades, matar seus habitantes, tomar suas terras e poupar apenas as meninas virgens para o usufruto de seus varões pode ser considerado bom? 
Acredito que todo crente seja uma boa pessoa. A tentativa de um crente em justificar o injustificável me faz ter certeza de que estou certo. Deus era o deus dos hebreus, o deus do “povo escolhido” (escolhido por ele, deus); Jesus é o deus de qualquer um que se disponha a trocar demonstrações carnavalescas de amor fingido por um salvo-conduto que o livre do castigo de ser torturado por toda a eternidade (ameaça feita por ele, Jesus).
Deus cuidava exclusivamente dos hebreus e estava sempre do lado deles nas trincheiras; Jesus não tem nada de belicoso e, aparentemente, não faz distinção étnica. Deus afogou quase todo mundo na Terra, incitava guerras, matava e mandava matar; Jesus não é afeito a genocídios e sempre foi infinitamente mais diplomático. Segundo os religiosos, esse deus criou o universo todo, junto com tudo que há nele; Jesus se contentou em fazer apenas alguns truques de circo.
Mas se o pai era o verbo, o filho do homem foi o discurso. E graças a uma conversa mole sobre recompensa em outra vida; graças à ameaça de entregar os dissidentes aos cuidados do deus do Antigo Testamento, dois mil anos depois, Jesus é o único deus dos cristãos. Eles veneram sua imagem; eles fazem músicas em seu louvor; eles divulgam suas ideias e pregam em seu nome; eles o bajulam; eles recontam suas aventuras para as crianças; eles comemoram o dia do seu aniversário.
Quando baterem à sua porta nas manhãs de domingo, nos sermões das igrejas, nos shows de horrores dos programas religiosos na tevê; e sempre que vierem falar de “deus” para você, tente perceber a que deus eles estarão se referindo, a que deus eles estarão dirigindo suas lamúrias, a que deus eles invocam para agradecer e para suplicar, a que deus eles dizem que amam. Eu sou capaz de apostar que será o deus do Novo Testamento. O outro, o deus de Abraão, Isaac e Jacó, permanecerá acorrentado e esquecido na solidão daqueles milênios longínquos, até o fim dos tempos.
Quem seria capaz de amar um monstro? 
Toda a fé cristã se baseia numa ideia fundamental que é uma tolice constrangedora: “um ser perfeito, todo-poderoso, eterno etc. que, ao que tudo indica, ficou entediado de sua existência monótona e resolveu nos criar, a nós e ao universo, de forma que tivesse alguma coisa para fazer”. Como essa bobagem infantil não encontra o mínimo respaldo no mundo real, fora das páginas do livro de fábulas através do qual ela se popularizou, o crente ou católico fanático se vê forçado a recorrer constantemente ao imbecilionismo, para que a vida e as coisas não estraguem a sua fantasia, e o obriguem a viver num universo onde ele está, como todo mundo, por sua própria conta e risco.
Nada de padrinhos mágicos!
Para muita gente essa constatação seria um fardo insuportável; algo terrível demais para ser verdade. Portanto, o deus deles, e não o dos outros, precisa existir. E se esse deus existe, é óbvio que deve haver por aí um sem-número de coisas que alguém poderia usar para comprovar sua existência.
O problema é que não há! 
Por aqui fico. 
Também não posso e não pretendo desconverter ninguém. Eu jamais pensaria em algo tão tolo. Eu pretendo afetar apenas as pessoas ao meu alcance na esperança de que pelo menos uma delas, que também concorde comigo, afete alguém ao seu alcance e assim, um dia, as pessoas nasçam num mundo onde a religião seja apenas mais um clube social, não um passaporte para uma vida numa outra dimensão.

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