Texto de Sílvia Mota -
Escritora – Rio de Janeiro/RJ
publicado no HUMANITAS nº 03 – Outubro/2012
publicado no HUMANITAS nº 03 – Outubro/2012
No século V a.C.,
Sócrates (470 ou 469 a.C.)
afirmava que de nada sabia. Seu processo pedagógico - ao qual denominou maiêutica
(em memória da profissão materna, parteira), conhecida também como a arte da parturição
das ideias - desvendava ao interlocutor, através da refutação, a
consciência da sua ignorância, revelando-o como discípulo e não mestre. Os
questionamentos de Sócrates produziam dúvidas metódicas, que estimulavam o
discípulo a realizar reflexão reconstrutiva, direcionada à procura do
verdadeiro conhecimento, até que extraísse de si mesmo as procuradas respostas.
O pensamento de Platão
(428-347 a.C.),
mais brilhante e conhecido discípulo de Sócrates, se faz nesse balouço, pois ao
filósofo conhecer é, na realidade, um reconhecimento de verdades
pré-existentes, é despertar a razão a fim de que ela se exerça por si mesma, o
que se atesta quando nos deixamos guiar pela voz do inconsciente. Através das
suas obras Fedon e Mênon, especula que o conhecimento da alma
provém de existências anteriores. No diálogo Fedon, Platão narra
atitudes dos amigos e discípulos de Sócrates no último dia de sua vida. Fedon
sentia uma mistura de prazer e dor, pois enquanto
se deleita com a discussão filosófica, não esquece a morte iminente do mestre. Apolodoro não se conforma com a condenação de Sócrates: "O que acho mais difícil de suportar, Sócrates, é que te condenaram à morte injustamente!" Mas, Sócrates, abanando a cabeça, replica: "Meu caro Apolodoro, preferirias que me houvessem condenado justamente?” Sócrates calmamente responde às perguntas de seus discípulos sobre a alma, sua separação do corpo depois da morte e sua imortalidade, descrevendo as experiências da alma depois de sua libertação do corpo. E finaliza, como sempre, prescrevendo o uso da razão: "Pretender que as coisas sejam exatamente como as descrevi não é o que se espera de um homem de bom senso. Mas parece-me uma coisa boa e digna de confiança acreditar que é algo semelhante o que acontece com a alma, uma vez que ela é evidentemente imortal."
Em A República, ao expor sua ideia sobre a Teoria da Reminiscência, Platão transmuta os ensinamentos mais difíceis em simples deleite para a alma e narra o mito de Er, pastor oriundo da região da Panfília, que após sua morte foi levado para o Reino dos Mortos e, lá chegando, encontrou almas a vagar. Desvenda o pastor, nesse recanto, a transmigração das almas, através do renascimento constante, sob a esperança da purificação dos erros cometidos em vidas passadas. Seu renascimento ocorre até que, dulcificadas, as vidas acomodam-se eternamente. Mas, antes de retornarem à vida, podem as almas escolher o papel a ser representado na vida terrena. Sendo assim, algumas optam por serem reis, guerreiros ou ricos comerciantes; outras escolhem ser sábios ou artistas. No caminho de volta à Terra, as almas atravessam uma extensa planície por onde corre o rio Lethé, que em grego significa esquecimento, e bebem das suas águas. Ao saciarem a sede, aquelas almas que bebem muito esquecem toda a verdade contemplada no Reino dos Mortos; ao passo que não se esquecem quase nada do que conheceram aquelas almas que pouco bebem das águas do Lethé. As almas desejosas de poder, riqueza e fama são aquelas que mais bebem das águas do esquecimento; as que escolhem a sabedoria são as que menos bebem. Em consequência, as primeiras, dificilmente ou talvez nunca se recordarão, na próxima vida, da verdade que conheceram; enquanto as outras, fazendo uso da consciência, serão capazes de lembrar e ter sabedoria.
No embalo evolutivo do pensamento humano, o pensamento grego, através de Aristóteles expressa que todo homem é, naturalmente, desejoso de saber. Para o filósofo estagirista, o desejo de saber é inato e a prova disso é o prazer das sensações, que além da sua utilidade agradam por si mesmas. Aristóteles afirma que a espécie humana vive da arte e de raciocínios, e que a memória é o canal que concede aos homens a experiência. Em suas especulações refere-se às palavras de Polos, aluno do sofista Górgias: a experiência criou a arte, e a inexperiência o acaso.
se deleita com a discussão filosófica, não esquece a morte iminente do mestre. Apolodoro não se conforma com a condenação de Sócrates: "O que acho mais difícil de suportar, Sócrates, é que te condenaram à morte injustamente!" Mas, Sócrates, abanando a cabeça, replica: "Meu caro Apolodoro, preferirias que me houvessem condenado justamente?” Sócrates calmamente responde às perguntas de seus discípulos sobre a alma, sua separação do corpo depois da morte e sua imortalidade, descrevendo as experiências da alma depois de sua libertação do corpo. E finaliza, como sempre, prescrevendo o uso da razão: "Pretender que as coisas sejam exatamente como as descrevi não é o que se espera de um homem de bom senso. Mas parece-me uma coisa boa e digna de confiança acreditar que é algo semelhante o que acontece com a alma, uma vez que ela é evidentemente imortal."
Em A República, ao expor sua ideia sobre a Teoria da Reminiscência, Platão transmuta os ensinamentos mais difíceis em simples deleite para a alma e narra o mito de Er, pastor oriundo da região da Panfília, que após sua morte foi levado para o Reino dos Mortos e, lá chegando, encontrou almas a vagar. Desvenda o pastor, nesse recanto, a transmigração das almas, através do renascimento constante, sob a esperança da purificação dos erros cometidos em vidas passadas. Seu renascimento ocorre até que, dulcificadas, as vidas acomodam-se eternamente. Mas, antes de retornarem à vida, podem as almas escolher o papel a ser representado na vida terrena. Sendo assim, algumas optam por serem reis, guerreiros ou ricos comerciantes; outras escolhem ser sábios ou artistas. No caminho de volta à Terra, as almas atravessam uma extensa planície por onde corre o rio Lethé, que em grego significa esquecimento, e bebem das suas águas. Ao saciarem a sede, aquelas almas que bebem muito esquecem toda a verdade contemplada no Reino dos Mortos; ao passo que não se esquecem quase nada do que conheceram aquelas almas que pouco bebem das águas do Lethé. As almas desejosas de poder, riqueza e fama são aquelas que mais bebem das águas do esquecimento; as que escolhem a sabedoria são as que menos bebem. Em consequência, as primeiras, dificilmente ou talvez nunca se recordarão, na próxima vida, da verdade que conheceram; enquanto as outras, fazendo uso da consciência, serão capazes de lembrar e ter sabedoria.
No embalo evolutivo do pensamento humano, o pensamento grego, através de Aristóteles expressa que todo homem é, naturalmente, desejoso de saber. Para o filósofo estagirista, o desejo de saber é inato e a prova disso é o prazer das sensações, que além da sua utilidade agradam por si mesmas. Aristóteles afirma que a espécie humana vive da arte e de raciocínios, e que a memória é o canal que concede aos homens a experiência. Em suas especulações refere-se às palavras de Polos, aluno do sofista Górgias: a experiência criou a arte, e a inexperiência o acaso.
Como se vê, desde
tempos antigos, seja em Sócrates, Platão ou Aristóteles, o conhecimento é essencialmente
humano e se aperfeiçoa através da experiência. Por consequência, o processo do
conhecimento alia-se ao entendimento, inteligência, razão natural e se perfaz
através da relação estabelecida entre um sujeito que conhece e um objeto
conhecido.
Depreende-se deste
enfoque que o ser humano observa, detecta, apreende, processa, memoriza a
informação proveniente de determinado objeto e desenvolve a capacidade de
expressar juízo de valor a seu respeito.
Através do conhecimento o homem se coloca no mundo, consciente de ser protagonista de uma eterna procura que lhe permitirá um renascer eterno. Reelabora a máxima do pensamento socrático: quanto mais eu sei mais sei que nada sei, contextualizando-se à época vivenciada, pois o conhecimento transmuda ao sabor da abordagem que se faz do mundo em que se vive.
Conhecer é, pois, a possibilidade de a pessoa humana relacionar-se com o exterior. Sob este aspecto, significa poder.
Através do conhecimento o homem se coloca no mundo, consciente de ser protagonista de uma eterna procura que lhe permitirá um renascer eterno. Reelabora a máxima do pensamento socrático: quanto mais eu sei mais sei que nada sei, contextualizando-se à época vivenciada, pois o conhecimento transmuda ao sabor da abordagem que se faz do mundo em que se vive.
Conhecer é, pois, a possibilidade de a pessoa humana relacionar-se com o exterior. Sob este aspecto, significa poder.
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